terça-feira, 29 de maio de 2012
quinta-feira, 17 de maio de 2012
Crítica: O Feio - In Process, por Eriam Schoenardie
Iniciado
na disciplina de Atelier I e prolongado em Estágio I, ambas sobre orientação de
Patrícia Fagundes, O Feio – In Process
é o espetáculo em cartaz no mês de maio no Projeto Teatro, Pesquisa e Extenção
(TPE). A montagem, inclusive, já se mostra preparada para deixar o âmbito acadêmico
para uma temporada no Goethe-Institut Porto Alegre no
próximo mês, onde o público será agraciado com a versão final da peça. Contudo,
é evidente que essa cereja do bolo só é possível graças a uma massa muito consistente,
que usa de recursos policênicos como fermento e do panorama da perda de
identidade do homem contemporâneo como recheio.
O texto do dramaturgo alemão
contemporâneo Marius von Mayenburg foi
traduzido especialmente para esta montagem por Francisco Klinger Carvalho e
pela própria diretora do espetáculo, Mirah Laline. O mérito inicial da
encenação está na escolha de explorar a comicidade latente da obra, que acaba
por servir como cerne principal para a origem consequente de todas as outras
construções em palco, desde o ritmo da ação até os formatos escrachados de
atuação. Em contrapartida, o que faz com que tudo isso não se torne apenas mais
uma comédia rasgada é a essência ideológica do texto, que parece
respeitosamente preservada e que acaba por conferir ao todo não só o riso
satírico, mas também a seriedade do questionamento do ser.
No chão do palco vemos uma
espécie de campo de disputas desenhado, remetendo ao jogo de interessas no qual
a história é calcada. Fora dessas linhas, os atores despem seus personagens, no
melhor estilo Brecht. O figurino executivo usado por todos os atores vem ao
encontro das negociações comerciais que circundam a trama e parece concretizar
uma padronização que, na verdade, é a temática de toda a obra. A iluminação é precisa
e satisfatória, e a única ressalva que faço é quanto à marcação de um ator fora
do foco da luz com o intuito de fazer uma piada: a proposta como elemento
avulso de metateatralidade não surte efeito, pois seria necessário que essa
brincadeira com os mecanismos teatrais viesse acompanhada de outras situações
similares, que não acontece.
Não há tempo para distrações. A
ação desenvolvida se dá em um ritmo acelerado e intenso, que a cada nova cena
parece mais eficiente e que só não é alcançado na cena da conferência de
empresas, em que os atores trabalham na quase imobilidade por tempo em demasia.
O irônico é que essa dinamicidade é possibilitada justamente pelas transições
de cena, muitas vezes o tendão de Aquiles de muitas montagens. Duas cadeiras e
uma mesa com rodas em suas pernas, a iluminação bem marcada e o jogo teatral
rápido dos atores associam-se para que não haja intervalos na narrativa. Há
algo de cinema em O Feio, pois parece
que a apresentação passou por uma hábil edição, que costurou pontualmente uma
cena à outra. Falando de cinema, as poucas, mas interessantes, projeções de
vídeo só pesam a seu favor – desde uma avulsa propaganda de hotel, responsável
pela conquista da atenção do público logo nos minutos iniciais, até vídeos
cirúrgicos reais que são causadores de um incômodo e de uma angustia que culminam
na inserção do espectador frente à temática de discussão.
Outro
artifício para a não dispersão das percepções do espectador é concretizado por
coreografias ora vibrantes ora clichês, que desempenham um papel de injeção de
adrenalina em cena. Exemplo vivo disso é a cena de abertura, uma longa
sequência de movimentos que se apropria tanto de precisão como de caos corporal
para conferir um princípio visceral a montagem desde seu primeiro momento, ato
arriscado, mas que não decepciona. Tudo isso ao som do industrial metal dos alemães do Rammenstein, com certeza uma das
escolhas musicais mais felizes. A trilha sonora pesquisada é um elemento
bastante presente na composição de muitas cenas, porém em alguns casos trabalha
com certa obviedade, que faz surgir a vontade de que ao invés de ser tão
abrangente seguisse uma linha sonora mais específica, como, por exemplo, a do industrial metal ou talvez de músicas de
origens germânicas (afinal, também temos Klaus Nomi).
A cerca das atuações, é
inevitável destacar que Paulo Roberto Farias nos presenteia com uma inspirada
composição de seus dois personagens, na qual é nítido que o ator partiu do
mesmo ponto em comum (dadas as características similares entre ambos), mas
explorou as nuances que diferenciariam estas figuras e assim chegou a um chefe
cínico e debochado e a um médico doentio e espasmódico. Danuta Zaghetto segue pela mesma linha,
mostrando-se versátil, pois enquanto uma de suas personagens é um arquétipo que
vai ao poucos convencendo o espectador, a outra segue por um caminho mais
realista, com uma sinceridade expressiva que conquista nossa simpatia de instantâneo.
Marcelo Mertins constrói melhor o papel de principal oponente do protagonista
do que o de filho gay da uma velha empresária, talvez pela pouca participação
deste segundo e uma menor apropriação do personagem. Já Rossendo Rodrigues, que
encarna somente Lette (o protagonista dessa guerra moderna do ser e do parecer),
parece se apropriar de características corporais de alguns dos seus trabalhos
anteriores, como a fragilidade herdada por Michael Jackson e a canalhice do
indivíduo da primeira cena de Breves Entrevistas
com Homens Hediondos, para aqui desenhar a perceptível escala de evolução
exigida para o personagem título.
Por fim, é inerente parabenizar
todos, principalmente a diretora, pela concretização de “um mosaico polifônico
que reflete a jovialidade vibrante e inquieta da equipe criativa.” Sim, esse
objetivo parece atingido em cheio, em uma proposta cênica vigorosa que, mesmo “In Process”, é mais lapidada do que
muitas encenações já finalizadas. O Feio
é belo, possui atrativos múltiplos e, por todos os motivos descritos, se firma
como um dos melhores projetos do Departamento de Arte Dramática (DAD) que eu já
vi.
* Eriam Schoenardie é aluno do 3º semestre de Teatro do Departamento de Arte Dramática da UFRGS.
terça-feira, 15 de maio de 2012
Programação completa de 2012
ABRIL: Ensaio Sobre A Repetição
Sinopse: Repetições ou
diferenças? O que se repete na aparência e o que realmente estamos repetindo? A
partir desta indagação o grupo observou como a repetição está presente em
nossas vidas. Através de pequenas histórias que abordam nossos padrões de
aprendizado e comportamento, nossos hábitos cotidianos e nossas relações
sociais, criamos um espetáculo onde duas atrizes transitam pelas variáveis da
repetição partindo de uma dramaturgia construída com histórias pessoais e
fragmentos dos textos de Sarah Kane, Gabriel García Márquez e Fernando Pessoa.
O corpo imagético das atrizes, atravessado pela música ao vivo, se aventura em
uma composição cênica sem personagens e nos instiga a rever nossas próprias
repetições.
MAIO: O Feio “in process”
Sinopse: Lette,
criativo engenheiro de sistemas elétricos, pensava que era “normal”, mas no dia
em que a empresa onde trabalha o proíbe de participar da promoção de sua mais
recente invenção industrial, a Tomada de alta tensão 2CK, ele descobre que é
“feio”. Convencido – inclusive por sua mulher – da sua catastrófica feiúra,
Lette acaba se dirigindo a um cirurgião plástico que lhe cria o rosto ideal,
tornando-o irresistível à sua mulher, a uma série de admiradoras no circuito de
palestras e até mesmo à chefe de uma grande empresa e ao seu filho gay. Todo
este entusiasmo acaba, contudo, por dar lugar ao desespero, quando Lette
descobre que o cirurgião repetiu a operação em outros homens e se depara com um
mundo subitamente invadido por um sem número de sósias seus.
JUNHO: O Coração Delator
Sinopse: Em uma trama surpreendente, O Coração Delator
conta a história de um homem que está decidido a provar sua sanidade. O
espetáculo, baseado na obra homônima do escritor norte americano Edgar Allan
Poe, traz à tona os limites do homem diante de seus medos.
AGOSTO: O Que Você Foi Quando Era Criança?
Sinopse: O circo acabou. As personagens não buscam o
divertimento. Elas buscam quase desesperadamente, através do consumo, o
conforto. Não há motivos para rir. O riso é apenas um espasmo. É preciso
acreditar em uma nova forma de salvação. O palhaço perdeu seu emprego. Nós
estamos perdendo os nossos. É obrigação do palhaço receber nossa arrogância. O
palhaço não é engraçado.Cabe a ele engolir nossa fúria. Daremos uma festa para
um palhaço que não foi convidado. Já não nos importa a felicidade, apenas
parecermos felizes. Estamos no mesmo barco, que sabidamente afunda. Só nos
resta uma boa poltrona para que possamos, de forma confortável, aguardar que as
águas nos libertem. Não para uma nova ou melhor existência mas, para vida
nenhuma. O palhaço enfia a cabeça no balde e a mantém submersa por cinco
minutos. A água não mais purifica, apenas abafa o mundo. Às personagens restam
apenas lembranças. Vagas, imprecisas, que não se compartilham. Dividem o mesmo
espaço, mas não o mesmo tempo.
SETEMBRO: Sonhe
Sinopse: Muito alto pra ouvir e muito claro pra ver.
Em “?SÖÑhÊ#1”
a busca pelo onírico, diegetiza fragmentos das sensibilidades humanas e sua
cultura, em porções sobre carregadas de informações, transitando entre ator e
projeção pelos contrapontos energéticos ocasionados entre o corpo, a mente, a
fala e a razão. Em outras e poucas palavras: o amor comeu essa sinopse.
OUTUBRO: Experimento Nelson 5 - Osculum
Sinopse: O experimento cênico é livremente inspirado
na obra “O Beijo no Asfalto”, de Nelson Rodrigues. A Encenação revela uma
família que é confrontada com uma situação anormal, segundo os padrões da
sociedade na qual está inserida: um homem beija outro homem na boca, pouco
antes de sua morte. A situação logo toma proporções gigantescas, quando a
mídia, juntamente com a polícia, transforma o fato em uma nóticia bombástica. A
policia age de forma oposta ao seu carácter social; a mídia usa o acontecido
como mercadoria que lhe é ofertada. Dessa forma, o que se vê em “O Beijo no
Asfalto” são indivíduos sendo esmagados pelas engrenagens de seu meio social,
tomado de corrupção, preconceito e autoritarismo.
NOVEMBRO: Lady Macbeth
Sinopse: A personagem pintada por Shakespeare com as cores da força e da
ambição desmancha-se nas perturbadas visões de um desejo frustrado. Ninguém viu
a mancha que teimava em permanecer. Ninguém viu porque ela fugia como um sonho
que não se permite abraçar, embora tão próximo, quase real. Ninguém viu, mas
ela estava lá.
Todas as quartas-feiras, na Sala Alziro Azevedo (Av. Salgado Filho, 340).
Às 12h30 e 19h30.
domingo, 6 de maio de 2012
O Feio - "in process"
O Feio - "in process". Todas as quartas-feiras de MAIO, sempre às 12h30 e 19h30, na Sala Alziro Azevedo (Av. Salgado Filho, 340, Centro).
Sinopse: Lette,
criativo engenheiro de sistemas elétricos, pensava que era “normal”, mas no dia
em que a empresa onde trabalha o proíbe de participar da promoção de sua mais
recente invenção industrial, a Tomada de alta tensão 2CK, ele descobre que é
“feio”. Convencido – inclusive por sua mulher – da sua catastrófica feiúra,
Lette acaba se dirigindo a um cirurgião plástico que lhe cria o rosto ideal,
tornando-o irresistível à sua mulher, a uma série de admiradoras no circuito de
palestras e até mesmo à chefe de uma grande empresa e ao seu filho gay. Todo
este entusiasmo acaba, contudo, por dar lugar ao desespero, quando Lette
descobre que o cirurgião repetiu a operação em outros homens e se depara com um
mundo subitamente invadido por um sem número de sósias seus.
Autor:
Marius Von Mayenburg
Tradução:
Francisco Klinger Carvalho e Mirah Laline
Direção:
Mirah Laline
Elenco:
Danuta Zaghetto, Marcelo Mertins, Paulo Roberto Farias e Rossendo Rodrigues.
Orientação: Patrícia
Fagundes
Originado na disciplina de Aletier de Criação I
Trilha
sonora: Mirah Laline
Figurinos:
Marina Kerber
Iluminação:
Lucca Simas
Cenografia:
Marcelo Mertins e O grupo
Vídeo:
João de Queiróz
Projeção
de Vídeo: Maurício Casiraghi
Fotos:
Felipe Rossato
Duração: 50 minutos
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